quinta-feira, 11 de maio de 2023

 

Glória permanente

 

A busca por honra e reconhecimento ocupa o tempo de grande parte das pessoas. Ser aceito socialmente traz realização para adolescentes e adultos. Em nossos dias, o número de seguidores em sua rede social pretende sugerir quão interessante você é. Se você “viralizar”, lhe atribuirão um novo status: você será chamado de “influenciador digital”.

Alcançar a fama não tem sido uma tarefa tão difícil, mas saber lidar com ela... bem, aí já é outra história. Muitos artistas antigos amargam o esquecimento e até enfrentam depressão diante do fim de seu sucesso. Por isso, as pessoas estão dispostas a fazer qualquer coisa para não perder a sua glória.

Um retrato semelhante aconteceu há cerca de três mil anos quando o rei Saul perdeu a posição de homem mais famoso de Israel. Após a grande batalha contra os filisteus, Davi ganhou reconhecimento por derrotar o gigante Golias e assim foi recebido com glória ao retornar para Israel, 1Sm 18.6-9. A crescente fama de Davi incomodou o rei Saul e despertou-lhe grande inveja. Saul relutou em aceitar que sua glória foi passageira, assim como toda glória oferecida por esse mundo.

Jesus não se iludiu dessa forma buscando reconhecimento e aceitação da sociedade. Ele não precisava dessa sensação de aprovação vinda de homens, mas estava satisfeito com a aprovação que vinha do céu, Mt 3.17, Jo 6.27, 8.54, 12.28. Somente Deus pode dar glória, verdadeira e permanente e eterna, primeiramente ao seu filho unigênito, Jo 1.14, e posteriormente a todos aqueles que nascem das águas do batismo por meio da fé em Cristo Jesus, Jo 1.12-13. Nós, cristãos, devemos aprender mais essa lição de Jesus: não se iluda com as falsas glórias desse mundo, mas busque a verdadeira glória que vem de Deus.

O apóstolo Paulo também esteve nessa situação diversas vezes. Mesmo sendo um apóstolo escolhido por Jesus, ele enfrentou os desafios de cuidar da igreja do Senhor e até viu seu ministério rejeitado por muitos cristãos da igreja em Corinto. Ela era o fruto da obra de Deus através de Paulo e mesmo assim ele era rejeitado, 2Co 3.1-4. A barreira colocada por aqueles irmãos levou-o a escrever uma carta em defesa de seu apostolado, conhecida como Segunda Epístola aos Coríntios. Em sua reivindicação de autoridade, ele não depositou em si mesmo a glória ou mérito para ser aceito, mas apontou para Deus que capacita aqueles que estão a seu serviço, 2Co 3.5-6. Paulo era um representante da nova aliança, o pacto eterno, o ministério do Espírito revestido de glória. Era isso que lhe dava grande confiança!

Houve no passado uma aliança de Deus muito importante, a Lei dada no Sinai através de Moisés, também em condição gloriosa. Relembrando aquele evento, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó libertou o povo hebreu do Egito e conduziu-os pelo deserto até que, após três meses, chegaram à planície do Sinai, local que Deus escolheu para revelar sua lei, falando com Moisés e demonstrando sua glória diante de todo o povo, Ex 19. Era uma demonstração grandiosa que gerou medo e espanto, Ex 20.18-21. Diversas vezes Moisés subia o monte para receber as ordens de Deus e retornava para repetir ao povo. As Escrituras relatam que, após falar com o Senhor, Moisés descia com o rosto brilhante, resplandecendo a glória de Deus. Moisés transmitia as ordens de Deus e então precisava cobrir o rosto com um véu para que os israelitas não tivessem medo, Ex 34.29-35.

A respeito dessa glória contida na face de Moisés, Paulo traz uma nova perspectiva. De fato, ela era a verdadeira glória de Deus e significava que Moisés trazia palavras de autoridade divinas, sendo ele mesmo o mediador aprovado por Deus. Mas em 2Coríntios 3 o apóstolo Paulo chama atenção para o fato de que esse brilho na face de Moisés era momentâneo e uma das possíveis razões que o levou a cobrir o rosto era impedir que o povo notasse que aquele brilho diminuía até cessar, 2Co 3.7, 13. Moisés temeu perder aquela glória.

Essa observação de Paulo faz todo sentido em sua argumentação. Moisés recebia uma glória momentânea porque estava representando uma aliança momentânea. Por outro lado, como ministro de Cristo, a glória que Paulo representava era de uma aliança eterna, 2Co 3.9-11. Aí estava a sua confiança, 2Co 3.12. Paulo poderia não merecer crédito por quem era, mas com certeza merecia por aquilo que representava.

Entender a nossa esperança como discípulos de Jesus deve nos tornar confiantes dessa forma pois somos representantes do maior de todos os tesouros. Sem méritos próprios, carregamos uma mensagem e esperança que devem brilhar em nossos rostos de maneira permanente, sendo também capazes de fazer brilhar os rostos daqueles que estão perdidos. Fomos chamados das trevas para a luz e agora temos a missão de levar essa luz, Mt 5.14-16, 2Co 4.5-7, 1Pe 2.9. Essa é a nossa confiança, a nossa satisfação. Não se iluda com a honra e reconhecimento oferecidos por esse mundo pois são passageiros e até mesmo equivocados. Como discípulos de Jesus, nossa realização está em fazer a vontade do Pai. A glória do cristão é ser aprovado por Deus.